domingo, 27 de julho de 2014

Auntie Mame: Life is a banquet


“Um clássico perdido”, como hoje em dia este livro é mencionado…


Já há muito tempo penso em escrever sobre este tema… mas não conseguia me decidir COMO, já que ele se diversifica em tantos outros… “Auntie Mame”, o livro, o personagem, a peça de teatro, o filme, Rosalind Russell, Angela Lansbury, Bea Arthur, Lucille Ball e, acima de tudo, Patrick Dennis (Edward Everett Tanner III, 1921-1976, o maravilhoso, “flamboyant”, genial autor!).

Para ser muito sincero ainda não sei ao certo onde e como realmente começar…

Me ocorre porém que, ao redescobrir o livro “Auntie Mame” há alguns anos (Graças a Deus este título foi redescoberto e “tirado do fundo do baú” para ser mais uma vez publicado!) não só o “devorei” como também o presenteei a vários amigos.

Uma destas pessoas (uma alemã, daquelas "estacionadas” em 1968), que infelizmente tem aquele tipo de “postura” literária “cliché” que tenta se definir como “muito aproximada a um certo intelectualismo”, torceu o nariz e me deu a entender que não o tinha lido até o final… Uma pena – para ela - , pois perdeu uma das melhores oportunidades de ler “uma lição de vida” regada ao molho de bom-humor, positivismo, felicidade, diversão e “chic”. E isto por causa de seu preconceito. Exatamente uma das coisas que Mame Dennis mais detestava na vida…

Sim. Mas, porque este cliché que filosofia só pode ser pensada, respirada e articulada por caras lavadas como, por exemplo, Simone de Beauvoir? Ora… não machuca ninguém ser mais aberto para outras facetas da vida… E é esta a real filosofia de Mame Dennis: Life is a banquet and most poor sons-of-bitches are starving to death!!!!


Mame Dennis, “filha” da era da depressão, é um dos personagens mais deliciosos da literatura Americana – uma glamourosa, energética, incansável socialite (descrita por Patrick Dennis como “intoxicatingly perfumed”; ela considerava as 9:00 hs da manhã como “o meio da noite”), que luta batalhas não só pela felicidade mas também por justiça social e contra os preconceitos da chamada “classe média”… Uma delícia!

Patrick Dennis narra a estória e nos fala de imortais personagens como Vera Charles, Agnes Gooch, Ito, Mr. Babcock e Beauregard Jackson Pickett Burnside… Esta foi a razão do porque deste livro ter sido recusado por 19 editores… Não “se narrava” um livro… Depois de publicado em 1956 “Auntie Mame” esteve por dois anos na lista dos best-sellers do New York Times, junto com “Guestward, Ho!” e “The loving couple”, trasformando assim Dennis no primeiro autor a ter tres livros ao mesmo tempo nesta lista. Por sinal: a primeira edição de “Auntie Mame” vendeu mais de 2 milhões de exemplares transformando-o, da noite para o dia, num milionário!


Muitos sucessos vieram – inclusive “Little me” (uma deliciosa biografia sobre uma péssima atriz – de certa forma muito próxima à imagem de Zsa Zsa Gabor) que como “Mame” se transformaria num musical da Broadway. Mas, um dia Dennis saiu de moda, separou-se de sua família assumindo sua homossexualidade, perdeu toda sua mal-administrada fortuna, caiu na obscuridade e acabou sua vida trabalhando como mordomo, inclusive para a família Ray Kroc (fundador do McDonald’s). Dennis comentou uma vez sériamente: “I would rather serve these people than have to talk to them” (Prefiro servir estas pessoas do que ter que conversar com elas).

Dennis, que havia (mais uma vez) assumido um novo pseudonimo, Edwards, havia se desfeito de todos seus bens materiais, mantendo consigo sómente um original de “Vanity Fair” de Thackeray, um volume de “Etiquette” de Emily Post (!?!) e um dicionário para “Palavras-Cruzadas”. “Estou embarcando no que sera provávelmente a melhor carreira que já tive”, disse na época.

Hoje em dia Dennis, com esta “resurreição” dos últimos anos, é considerado como uma espécie de “Noël Coward Americano” (apesar de eu não gostar deste tipo de comparações).

O personagem Mame Dennis foi criado como um “espírito livre” que mostra ao seu sobrinho como viver a vida ao máximo… e neste processo ela inclúi lições nada ortodoxas (o próprio Dennis tirou um dia seus filhos da escola e levou-os para assistir o “Folies Bérgère” dizendo para sua professora: “Eles aprenderão mais comigo”). Por este e vários outros motivos é mais do que óbvio que, apesar de várias Senhoras da família de Dennis terem clamado ser “a inspiração para Mame Dennis”, a deliciosa tia não é ninguém menos ou mais do que o alter ego do próprio Patrick Dennis.


A (também) deliciosa Rosalind Russell deu vida à Mame no palco da Broadway em 1956 – e seguiu para Hollywood para mais uma vez entrar na alma da sua criação no filme que mais renda deu em 1958. Para mim Roz Russell é a eterna Mame, sua mais pura personificação.


Em 1966 o musical “Mame” foi criado para Angela Lansbury que teve que ceder seu lugar para Lucille Ball no homonimo filme de 1974. O início dos anos 70 não era realmente o solo mais fecundo para a personalidade de Mame Dennis, não depois de “Hair”e Woodstock – mesmo assim “Mame” foi um grande sucesso de bilheteria… apesar da crítica não ter sido nada gentil com “Lucy”.

Comparando porém as “Mames” de Russell e Ball (em celulóide) nota-se uma diferença crucial: Russell é “Comédia sotisficada” até debaixo das unhas do pé, Ball é mais “Pastelão”… Mesmo assim, cada filme tem suas virtudes e em ambos a mensagem principal existe: LIVE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Abaixo Roz no palco e num still publicitário do filme. Abusando do direito de ser charmosa...


Finalizo esta “Tertúlia” com duas exclamações feitas sobre Dennis. A primeira de Matteo Codignola da Editora italiana “Adelphi”: “Uma das razões do seu (“Auntie Mame”) sucesso é a sua clara mensagem – Não tem que se viver como ovelhas de um rebanho. Voce pode reinventar sua vida. Ela pode ser bizarra e livre, e um pouco mais aprazível“.

A segunda de seu filho Michael Tanner (1956): „Ele (Dennis) queria ser uma pessoa convencional… e ele simplesmente não era“.

Assim como Auntie Mame… Life is a Banquet!


domingo, 20 de julho de 2014

domingo, 13 de julho de 2014

Piaf...La vie en rose...


Hoje acordei com saudades de minha amiga Suely e do meu amigo Ricardo, seu marido... acordei pensando muito neles...

E me peguei "viajando" e sonhando com a feirinha de antiguidades na Gávea... onde estivemos, no ano passado, num dia gostoso de inverno.

Sim, um daqueles dias no quais as cores parecem ter mais cor e se diferenciam fortemente umas das outras pois a luz está mais clara, mais "branca".


Lá ouvimos por acaso, numa barraquinha de discos, Piaf... e ficamos ali, paradinhos, caladinhos, observadores, curtindo o momento como que encantados pela voz de Edith nos contando da "La vie en rose" num dia de cores tao lindas e distintas, pelo qual passávamos... num momento regado por coisas extremamente valiosas: tempo e amizade...

Ah, como eu gosto da poesia destes momentos do cotidiano...

Inesquecível.



P.S. Depois eu quero saber se voces lá estiveram, hoje... existem coincidencias?

sexta-feira, 4 de julho de 2014

“De Amor também se Morre” (“The Constant Nymph”, 1943): será?


Quando a autora de “De Amor também se Morre”, Margaret Kennedy, deixou no seu testamento o desejo que o filme baseado no seu livro fosse apenas exibido em Universidades e Museus (quando sua carreira comercial terminasse), fomos, em consequencia, privados de assistir esta obra por quase 70 anos...

O filme só recebeu a autorização de ser apresentado em público em 2011, para um festival do “Turner Classic Movies”. Incrível...


Semana passada tive a chance de ver este filme pela primeira vez e, apesar de ter achado certas partes meio lentas e sem dinamica, fiquei encantado com o resultado final...
Mais uma vez volto a repetir: que fascinante descobrir “novas” coisas que me motivam à pesquisas, novas leituras, novos horizontes...

O “plot” é bastante simples:
A família Sanger vive longe das convenções da sociedade da época.
O patriaca, músico, morre, deixando suas filhas, acostumadas à uma vida no campo, na Suiça, aos cuidados dos tios em Londres.
Tessa (Fontaine), uma das filhas é secretamente apaixonada por um amigo da família, Lewis (Charles Boyer); que também é músico. Ele porém pensa estar apaixonado por uma prima das meninas, a lindíssima Florence (interpretada pela fascinante e "alluring" Alexis Smith).


Tessa e a irmã são enviadas para Englaterra, para estudar num internato mas sentindo-se presas e infelizes, fogem para a casa de Lewis (e Florence).
Ele, encontrando-se numa crise criativa, transforma Tessa na sua fonte de inspiração para a completa insatisfação de sua esposa, que na realidade não é capaz de compreendê-lo como Tessa.


Como o título sugere, Kennedy usou a mitologia grega como fonte: ao contrário dos deuses, ninfas são mortais e, geralmente, possuem espíritos felizes, considerados divinos.

Fontaine dá vida à essa “ninfa” (como faria alguns anos mais tarde com “Lisa” de “Carta de uma desconhecida) uma menina de 14 anos, que “morre” de amor...

Joan Fontaine, uma atriz que nunca foi realmente bela, é a perfeita incarnação para esta menina que, segundo as palavras do diretor Edmund Goulding, deveria ser „consumptive, flat-chested, anemic and fourteen!“ (tísica, sem peito, anemica e quatorze!”) dando-lhe uma magnífica dinamica corporal, como uma verdadeira criança – mesmo em cenas nas quais a pobre Tessa fica sem ar ou se sente mal por causa de sua condição cardíaca...
Quando Goulding, durante um jantar privado mencionou à Joan suas dificuldades em encontrar uma atriz adequada para fazer "Tessa" (e como a "via" - tísica, sem peito, anemica e com quatorze anos) ela disse: "Como eu" e ganhou o papel...


Fontaine (que na época já tinha 26 anos) transforma-se diante dos nossos olhos nessa menina de 14: ela é travessa, brincalhona, desorientada e patéticamente apaixonada por “aquele” homem mais velho interpretado por Boyer!
Não consigo imaginar as atrizes que foram cogitadas para este papel como Merle Oberon, Margaret Sullavan, Olivia deHavilland (irmã e “Nemesis” de Joan) e Joan Leslie nos “enganando” tão descaradamente como Joan o faz... Transfromando-se assim...
Detalhe: a "glamourosa" Joan do poster do filme não existe no filme...

Boyer, não se encontra muito à vontade, o que é compreensível. Seu papel, extremamente unidimensional, não lhe dá possibilidades...


Já Alexis Smith (linda) perde as suas por não saber usá-las apropriadamente... Seu ciúme nos dá a impressão de uma neurose pior, não sómente causada pela relação, que nunca é cristalizada, entre Tessa e Lewis (em resposta à uma tentativa de beijo, ela diz a Lewis: “Não, esta é a casa da minha prima e tenho que respeitá-la!”).
Mas Smith ainda estava em sua fase de “treino” na Warner (junto à ninguém menos do que Eleanor Parker) que esperava ter nela uma de suas futuras estrelas, estrelas de uma geração “pós” Bette Davis...


Smith foi bastante conhecida mas nunca teve, ao contrário de Parker, esta indescritível “qualidade estelar”.

Charles Coburn e Peter Lorre (assim como Dame May Whitty) estão "bem", adequados aos seus papéis mas não criam personagens novos... senti-me como revendo-os em vários papéis que já haviam criado antes...

Belos cenários e figurinos, as eternas “escadas da Warner” (sinonimo de seus filmes, principalmente dos de Bette Davis), uma bela trilha sonora de Korngold (que, porém, evoca muitos outros filmes da Warner)e uma ótima, sútil fotografia em preto-e-branco são fatores que muito enriquecem este esquecido trabalho...


Joan Fontaine foi nominada para um "Oscar" (haveia recebido um no ano anterior) mas perdeu para a magnífica Jennifer Jones em "The song of Bernadette".


Mas uma única pergunta perdura:

por que este título em portugues? Tessa não morre de amor e sim de sua condição cardíaca...
Se morre de amor?