sábado, 15 de maio de 2010

"Can-Can" (1960): uma dança desenfreiadamente contagiante (mas óbviamente não para Nikita Kruschev!)


„Can-Can“ (1960), um maravilhoso e divertidíssimo musical (Cole Porter) que em 1953 não só fez de Gwen Verdon uma estrela (ela roubou o show de uma cantora chamada “Lilo”) como foi o grande causador do seu longo “love affair” com a Broadway (vide a tertúlia de 23.04.2009).

O personagem de Lilo “La Mome” foi “fundido” com a dançarina (personagem de Verdon) dando vida à “Simone Pistache” (um nome hilário, que adoro), interpretada no filme por Shirley MacLaine (apesar de “Claudine” uma outra bailarina, interpretada por Juliet Prowse, na época a “noiva” de Sinatra, ter sido mantida no Script). Mais um “amálgama” hollywoodiano… do qual Shirley bastante lucrou!

A 20th Century Fox começou a vasta produção em 1959 e as expectativas eram grandes.
Shirley chegava de um grande sucesso chamado “Some came running” (na MGM, de Vincente Minnelli e pelo qual recebeu sua primeira nominação – foram cinco ao total – para um Oscar por sua "primeira prostituta" nas telas – foram mais de cinco!) e lutou para voltar “à forma” para este musical (Na foto abaixo uma visívelmente cansada e esbaforida Shirley - o figurino, de veludo, não era só quentíssimo como também pesadíssimo - recebendo uma visita de seu irmão Warren Beatty e de sua namorada da época: ninguém menos do que uma elegante Joan Collins!).

Mas uma outra visita foi bem mais divulgada e trouxe grande publicidade para o filme: no auge da "guerra fria", o presidente da antiga U.D.S.S.R., Nikita Kruschev não só visitou os U.S.A. (acompanhado de Mme.Kruschev “himself”) como “deu um pulinho” a Hollywood e aos estúdios da Fox.

Neste dia Sinatra fez-se de “Emcee” e cantou para o casal Kruschev (que foi bem acomodado num “camarote”). Eles assistiram alguns ensaios com Jourdan e Chevalier e a “performance” de Shirley e Prowse dançando o endiabrado “Can-Can”, que é o real motivo desta postagem.


Numa entrevista depois, foi perguntado a Kruschev o que achara do “Can-Can”. No jornal do dia seguinte foi publicada sua lacônica e ao mesmo tempo reticente resposta em letras garrafais: "The face of humanity is prettier than its backside". A imprensa perguntou imediatamente a Shirley o que opinava e ela disse espontaneamente (sera que ela é áries como eu?): “Ora, ele está chateado porque estávamos usando calcinhas!”

Nota: Kruschev deve ter nutrido uma extrema antipatia por Shirley… Um ano depois, numa outra visita aos U.S.A., os dois estiveram, por coincidencia, ao mesmo tempo no mesmo restaurante (o famoso “Sardi’s”). Ela tinha acabado de filmar “The Appartment” (Se meu apartamento falasse) de Billy Wilder e se encontrava numa fase muito produtiva como atriz, sendo aclamada pela crítica e pelo público. Kruschev enviou-lhe uma mensagem: “Assisti “The appartment”. Voce melhorou.”

De volta a “Can-Can”:

Além de números maravilhosos e eternos de Cole Porter como “I love Paris”, “C’est Magnifique”, “Montmartre”, “Let’s do it!”, o filme ainda conta com um cast maravilhoso e harmonioso: Sinatra, MacLaine, Louis Jourdan, Chevalier e a incrível Juliet Prowse numa de suas poucas aparições cinematográficas. A direção de Walter Lang é impecável com um “ritmo” gostoso, vezes surpreendente, muito dinamico. Mas a coreografia do mestre Hermes Pan e a execução dos números musicais literalmente “roubaram” o filme e são um grande motivo de sua popularidade até hoje:

- O “Apache”, com esta “garota” de 25 anos (MacLaine), solta, sem medo de cair, de se bater e de se machucar, é hilariante e prende nossa atenção.

- “I love Paris” (o “Ballet” no “Jardim do Eden”) é uma pequena obra prima (Shirley é Eva, Juliet “a Serpente”) – a iluminação é sútilmente fascinante já que as “cores” trazem à tona a “Mood interior” dos personagens (e a “picante descoberta” que estão fazendo por causa da serpente e da Maçã…). Mais sobre este número numa próxima postagem.

- Finalmente o “Can-Can”, o tema título que finaliza o filme (ao contrário de um “Hello Dolly”, com coreografia de outro mestre, Michael Kidd, no qual a canção título é interpretada no meio do filme e faz que nosso interesse diminua a partir deste ponto) que simplesmente vem encontrar todas nossas expectativas e até mais: um número maravilhoso, divertido, dinamico, fervilhante, endiabrado e contagiosamente, desenfreiadamente animado! Contrário à “tradição” do Can-Can, ele “usa” também também bailarinos, o que dá um ar mais universal à Dança, além de criar boas “figuras”. Muito boa idéia!

Nunca vi ou voltei a ver um Can-Can como este! Tenho sempre um certo receio em dar opiniões muito “temporalmente decisivas” , finais mas hoje, não podendo resistir, farei uma exceção: este certamente é o melhor Can-Can que já assisti até hoje! (aumentem um pouco o som...)

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