segunda-feira, 29 de junho de 2009

Romeo and Juliet, Gelsey Kirkland & Anthony Dowell

Nada a dizer... só este pas-de-deux com meus dois queridos de sempre:

Gelsey Kirkland

e Anthony Dowell

Gelsey, sempre louca, talentosíssima, analítica ao extremo em sua arte e Anthony já "past his prime" (mas ainda, para mim, o mais nobre dos Danseurs), a coreografia de MacMillan, Prokofieff... O que quero mais para acabar este dia lindo? Fiquei hoje em casa e encontrei tantos tesouros... E agora me dei conta de um fato: nunca assisti "Romeu e Julieta" no Brasil...
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sábado, 27 de junho de 2009

REMEMBERING: Eleanor Parker (Happy Birthday!)


Uma das boas atrizes do cinema americano. Uma das mulheres mais elegantes de Hollywood. Uma que nunca deu realmente muito valor à papéis glamourosos (apesar de ter feito alguns) e que nunca usou esta “imagem” como um rótulo. Uma grande Dama do cinema. Atriz com A maiúsculo.

Eleanor Parker nasceu em 26 de junho de 1922 (ou seja, completou ontem 87 anos), debutou no cinema em 1941, foi nominada para tres Oscars e fez seu último filme em 1991, finalizando assim 50 anos de uma brilhante carreira!

É de certa forma bem difícil encontrar seus primeiros filmes, ou seja, os que foram feitos na década de 40. Eu só conheço na realidade tres da época em que estava sendo “treinada” pela Warner (junto à Alexis Smith) para eventualmente ser uma “nova” Bette Davis: “Between two Worlds” (1944), “Of human Bondage” / Servidão Humana (1946) e no papel duplo de “A Woman in White” (1948).

“Between” conta várias estórias entre elas a do casal "Bergner": ele, um pianista austríaco, sendo interpretado pelo austríaco Paul Henreid (Victor Lázlo de “Casablanca"), ela sua devota esposa. Depois de uma tentativa de suicídio “se encontram” num barco... só para descobrir que estão mortos, assim como todos os outros passageiros deste “cruzeiro”. Num papel secundário Alexis Smith. “Of Human Bondage” é a refilmagem do clássico de Somerset Maughan, que tinha já trazido fama à Bette Davis, e desta vez deu a chance à Eleanor de interpretar a sordida e barata garçonete, Mildred, que morre de sífilis. Muitas comparações foram feitas entre as duas atrizes e o filme nao levou a carreira de Eleanor a frente. “A Woman in White” é um daqueles horrorosos filmes “góticos” da Warner como “Dragonwick” (1946) que são tão confusos, tão cheios de informação que um sente-se até sufocado... Eleanor tem um papel duplo (ela é a “Woman in White”) mas o papel principal coube à Alexis Smith! (Vide minha postagem de 06.08.2008, “Follies”). Num papel secundário a fabulosa Agnes Moorehead!

O seu “Break” só veio em 1950 – mas valeu a pena esperar tanto. Marie Allen em “Caged” é um daqueles grandes papéis que aparecem raramente no cinema, tendo sido escrito especialmente para a tela . Marie é erroneamente envolvida num crime que seu marido comete acidentalmente ao querer roubar um posto de gasolina. Ele morre. Ela, uma mocinha de interior, muito inocente, vai presa. Ela ainda nao sabe que está grávida. O filme foi o primeiro a criticar o sistema penitenciário americano. Marie não só passa por terríveis momentos, torturas (mentais e físicas) como também dá a luz ao seu filho na prisão para ve-lo separado dela para sempre. Ela entra na prisão uma jovenzinha e transforma-se numa mulher sofrida, machucada, agressiva. Ela entra uma inocente e sai uma criminosa. A diretora da prisão (mais uma vez Agnes Moorehead) diz no final do filme ao ve-la sair pelo portão: “Don’t put her file away; she’ll be back” – e aí somos confrontados com sua foto, no dia em que chegou ali... Triste o que uma cadeia pode fazer, transformar...



Este filme rendeu-lhe sua primeira nominação a um Oscar ( e o premio de melhor atriz no Festival de Veneza!). A Warner não tinha conseguido criar uma segunda “Bette” mas conseguiu esta maravilhosa Eleanor Parker, única, que logo deixaria o estúdio... Devemos acrescentar aqui que as interpretações de Eleanor, até hoje, não envelheceram...

Suas outras nominações: “Detective Story” com Kirk Douglas (William Wyler, 1951) e como o soprano australiano Marjorie Lawrence em “The interrupted Melody” com Glenn Ford (MGM, 1955. Vide minha postagem de 03.03.2009), fime no qual esteve soberba.
Mulher talentosa e versátil, Eleanor nunca deixou-se rotular como “Deusa”.

Estava definitivamente muito glamourosa (e muito comica) com os cabelos vermelhos para o Technicolor de “Scaramouche” (ao lado de Stewart Granger, Janet Leigh e Mel Ferrer)


assim como em “Melodia Interrompida” (com a maravilhosa voz de Eilleen Farrel, como por exemplo como Dalillah na minha ária preferida: Mon coeur s'ouvre à la voix).


e em “The naked Jungle” (1954 ao lado de Charlton Heston no Amazonas!) mas em “Detective Story” (com Kirk Douglas), no famosíssimo “The Man with the golden Arm” (1955, ao lado de Frank Sinatra) e em “Lizzie” (1957) ela parece ter ficado bem distante, muito longe mesmo do espelho...

Lizzie” é um filme injustiçado, esquecido: um (outro) caso de múltiplas personalidades que foi completamente ofuscado por “The three Faces of Eve” com a (também) magnífica interpretação de Joanne Woodward.

Eleanor teve grande destaque como “The Baroness” em “The Sound of Music” (A Noviça Rebelde, Fox, 1965), que estava só lutando pelo que queria: o Barão Von Trapp!

Jamais esqueço sua linha final como Elsa (a Baronesa). Uma linha boba que ela transforma, com seu timbre, numa obra de arte. Sabendo que “perdeu-o”, aceita com delicadeza e nobreza esta “peça que o destino lhe pregou", não perde nunca a classe e depois de dar-lhe um beijo na face diz gravemente com um sorriso: “Auf Wiedersehen, Darling!”.

Aqui alguns momentos da inesquecível Miss Parker. Primeiro no realista “Caged”, depois no Trailer de "Interrupted Melody" - Disfrutem de duas interpretações bem diferentes de Parker (e da magnífica voz de Eillen Farrel como Marjorie Lawrence... Na ária de Dalillah, em "Over the Rainbow" etc. e tal...).
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Happy Birthday, Miss Parker!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lillian Roth... Ain't she sweet?

„Ain’t she sweet?“ é uma simpática musiquinha de 1927 que, junto a “Happy day are here again” virou um “standard” de Tin Pan Alley (o nome dado aos publicadores e compositores de partituras populares, extremamente “na moda” por um longo período... do final da última década do século XIX até os anos 20 do século passado!) e foi gravada por vários intérpretes inclusive Eddie Cantor, Pearl Bailey, Lillian Roth (foto abaixo) e até pelos Beatles!

Há dois anos eu estava passeando em Colonia e num palquinho estava uma cantora/sapateadora fazendo uma performance desta canção... a coitadinha era tão “ruinzinha”, cantava tão mal e só sabia tres passinhos de sapateado... eu fiquei com tanta pena daquela figura tão magrinha, tão mal vestida e tão patética que fiquei alí, parado no meio da praça pública, na chuva, práticamente como o único expectador. E aplaudi.

Lillian Roth (vide minha postagem de 16 de maio de 2009) gravou esta mesma canção em 1933... pouco tempo antes de ter desaparecido por quase duas décadas por causa de seu problema com o álcool. Acima Lillian com Frances Dee numa divertida foto dos anos 30. Que simpática produção! ♫ ♪ Aren’t they sweet? ♫ ♪ Abaixo, Lillian cantando. Como os gostos mudaram...
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Acho esta musiquinha a "cara" do meu amigo Cláudio!

domingo, 21 de junho de 2009

Enciclopédias e enciclopédias...

Blanche Dubois, a trágica heroína de Tennessee Williams, disse em “Um bonde chamado Desejo”: „I’ve always depended on the kindness of strangers“.

Eu, sempre dependi de livros e enciclopédias!

Como sofri ao chegar na Austria, ainda distante anos luz do conforto de um computador em casa (e também no trabalho), pelo fato de não ter uma enciclopédia aqui. Uma estante de livros (apesar do Internet) é um lugar “vivo” para mim, fervilhando de informações esperando para serem descobertas e emoções. Pesquisar no Internet não substitui para mim o prazer, a sensação deliciosa de abrir e folhear um livro...

Mas existem enciclopédias e enciclopédias. Verdade.

Numa de minhas “pesquisas”, já há muitos anos, estava eu procurando alguma coisa sobre filosofia e matemática em relação à música e óbviamente quiz ler sobre Pitágoras.

Abri a enciclopédia Barsa:

voces acreditam que impressas estavam 6 linhas sobre Pitágoras seguidas de uma página e meia sobre a Pitanga ?????

Realmente existem enciclopédias e enciclopédias...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Madame Butterfly, Cho-Cho-San – uma experiencia pessoal.

Madame Butterfly é uma Ópera maravilhosa com uma estória triste, desapontadora e dolorosa. Bem mais humana do que pensamos se à analisamos mais profundamente.
Uma das “Óperas pequenas”, como eu as chamo. Não refiro-me à música e sim à toda uma atmosfera especial e “íntima” desprovida de qualquer “apoteose” que Puccini sabia dar perfeitamente aos seus melhores trabalhos: Pensem na chave perdida, na vela que se apaga no primeiro ato de “La Bohème” e depois o “Muff” que Musetta dá à Mimi para esquentar suas mãos. Objetos pequenos. Muito pequenos para o palco. Objetos pequenos requerem uma gesticulação menor no palco. Objetos que fazem-nos, não importa aonde estejamos sentados, nos inclinar um pouco para frente, dedicando ainda mais nossa atenção e concentração, entrando nesta “intimidade” em plena empatia, em pleno “rapport”.

Butterfly, originalmente uma estória de John Luther Long foi adaptada para o palco por David Belasco e teve sua premiére em New York em 1900. A produção “atravessou” o Atlantico para Londres, onde foi vista por Giacomo Puccini. Sua Ópera foi um fracasso em 1904 (estreiou no La Scala de Milão) mas logo em seguida foi revisada e reestreiou com grande sucesso. Esta é a versão que ouvimos até hoje, uma das Óperas mais frequentemente produzidas em todo o mundo.

A “linha” da estória é simples. Muito simples. Passada inteiramente numa casa em Nagasaki. O enredo poderia ser até ridículo (Girls gets boy, girl loses boy, girl commits Hara Kiri) nao fosse toda a emocionalidade ligada ao amor e valores e à caracterizacao dos personagens principais, nao só em termos musicais como também dramáticos.

UM CURTO RESUMO:


No primeiro ato conhecemos Capitão Pinkerton, um americano, e já sentimos que ele não é “flor que se cheire”. Sua “noiva”, Cho-Cho-San que tem sómente 15 anos, foi encontrada para ele por um agente de casamentos.

Ele compara-a à uma Borboleta (“Tenho que caçá-la mesmo que danifique suas asas”). O terreno está já preparado para a tragédia que seguirá. Butterfly não quer ver a realidade e está perdida de amor por Pinkerton. O consul americano aconselha Pinkerton a levar mais a sério seu casamento com Cho-Cho-San. Durante a cerimonia de casamento o tio de Butterfly aparece e a amaldiçoa. Ela assumiu a “religião americana” na casa da Missão, traíndo assim seu povo. Ela então, neste momento, “abandona” sua família, sua religião, suas crenças. Suzuki, sua empregada, prepara-a para a noite de núpcias. Pinkerton não consegue acreditar em sua sorte: este “brinquedo” pertence a ele.
No segundo ato 3 anos se passaram. Pinkerton que prometeu voltar, nunca o fez como Suzuki pensava. Butterfly continua enganando-se. O Consul, Sharpless, recebeu uma carta de Pinkerton e quer preparar Butterfly para o fato que ele vem ao Japão mas não por ela. Butterfly interrompe-o, impedindo-o de contar a verdade, dar a notícia que ela não quer ouvir. Como sempre ela nega a realidade. Ela recebe uma proposta de casamento, do rico Yamadori mas recusa-o justificando que seu casamento americano não é fácil de dissolver. Sharpless tenta convence-la de aceitar. Ela então lhe apresenta seu filho de tres anos, o filho de Pinkerton. Um canhão soa no porto anunciando a chegada do navio de Pinkerton. Butterfly decora toda a casa com flores.

No último ato Butterfly passou uma noite em claro e Pinkerton ainda não veio. Suzuki é surpreendida por Sharpless e Pinkerton. No jardim espera Kate, a esposa de Pinkerton. Eles vieram apanhar a criança para levá-lo para um futuro “seguro” na América. Butterfly se entera da verdade e manda todos embora. Ela quer entregar o menino pessoalmente a Pinkerton. Só. Ela separa-se da criança por alguns instantes e se apunhala com a adaga de seu pai, com a qual ele próprio fez um Hara Kiri.

UMA EXPERIENCIA PESSOAL:

Há muitos anos atrás tive uma linda oportunidade. Fui convidado ao Conservatório de música do Brooklyn para assistir uma versão amadora de “Butterfly”. Jamais esquecerei este espetáculo. Se consideramos Butterfly uma obra “íntima”, eles simplesmente captaram a essencia na raiz! Musicalmente nada de especial (até pelo contrário) mas que “staging”!
De pura sensibilidade e compreensão da obra. Depois deste dia sempre senti falta de tal “compreensão”. Do Met à Ópera de Viena.

Um exemplo. No segundo ato. Cho-Cho-San está sempre vestida “ocidentalmente”, pois assumiu uma vida ocidental assim como a religião de seu marido. Em toda e qualquer produção, o soprano está sempre muito bem vestido. Nesta apresentação Cho-Cho-San estava mal vestida, fora de moda, com um corte de cabelo feio... Sim, ela vivia no Japão em 1900, sua “idéia” da mulher ocidental e de sua “moda” era fruto de algumas fotos que tinha visto alguma vez em qualquer revista antiquada, velha... ou em qualquer album empoeirado. Este fato é ainda mais claro para o público, no terceiro ato, quando a comparamos à elegante Kate Pinkerton. Butterfly transforma-se em uma figura patética. E ainda mais patética durante sua cena de morte (musicalmente minha parte preferida desta Ópera) depois de ter colocado seu kimono. Ela tenta reunir dentro de si mais uma vez seu povo, suas crenças, seus costumes, sua religião, sua honra. Ela tenta voltar à suas raízes. O Kimono, a adaga de seu pai, o budismo... mas tem o cabelo ocidental. Feio, mal cortado (Ao contrário das grandes cantoras que aparecem no terceiro ato com um penteado complicado e trabalhoso). Ela simplesmente transformou-se, para mim, numa figura real, palpável naquele momento. De carne, sangue e osso.
De volta ao segundo ato, sua ária “Un bel dì vendremo” (quando ela fantasia para Suzuki a “volta” de Pinkerton “um belo dia”) teve uma interpretação, em termos de atuação, quase brechtiniana. Um dos poucos exemplos de “estória dentro da estória” no mundo da Ópera, “Un bel dì” dá chances de interpretação muito além das fronteiras da melomania e da preocupação com a técnica. Sonho. Fantasia. Teatro puro. Sensibilidade à flor-da-pele. Isto multiplicado por dois. Estória dentro da estória.

Lembro-me da jovem cantora que interpretou Cho-Cho-San. Também uma linda atriz. Nela via-se uma Butterfly que não era totalmente inocente – como muitas cantoras a interpretam. Não podemos esquecer que Cho-Cho-San tinha sido uma Geisha (um erro da “estória” original pois nesta tenra idade ela ainda nao poderia ter acabado seu “treinamento” como geisha). As vezes interpretações de Butterfly tendem à transformá-la numa “heroína” esquecendo-se de seus erros, seus demonios, suas dúvidas e de sua desolação.
A cena na qual ela reúne finalmente dentro de si as forças que lhe restam, sua família (a adaga do pai) e sua religião para morrer foi de uma poesia única. No seu “santuário” via-se também uma cruz, bandeirinhas com “Uncle Sam”, recortes de revista. Então, em questão de segundos, nos demos conta que esta Cho-Cho-San ainda era uma criança. Sim, envelhecida pelo sofrimento, apaixonada, mãe até mas ainda uma criança que desde seus 15 anos havia vivido só, sem ninguém para guiar seus passos, para ajudá-la a se desenvolver moral- e intelectualmente. Sua morte não foi transformada num ritual. Esta cena é descrita como um “Hara Kiri” mas este também é um erro (muitas vezes é repetido nos grandes palcos). O Hara Kiri era um ritual únicamente masculino. Cho-Cho-San tirou sua própria vida. Apesar de todo o lado simbólico e espiritual. Ela caiu na realidade e quiz parar de sofrer. Só isto.

Eu já vi tantas “Madame Butterfly” na minha vida que já perdi a conta – amo Puccini! Mas devo confessar que a primeira vez que “compreendi” Butterfly MESMO foi naquela noite de inverno Nova Yorkino no início dos anos 80... Lembro-me vívidamente da longa conversa e análise (nada mais nada menos do que uma boa “tertúlia”) que seguiu aquela inesquecível apresentação, até altas horas da madrugada num pequeno bar em Greenwich Village. Um dos sentimentos mais gratificantes para mim: Compreender. Pois só sentindo posso compreender.

Não guardei o programa, não sei o nome dos músicos, dos cantores, do diretor, nem mais a data do espetáculo. Nada. Só sei que estarão para sempre vivos na minha memória. Com muita gratidão.

Aqui Mirella Freni na "Morte de Butterfly", que como já disse, é musicalmente minha parte preferida desta Ópera (Suzuki é a maravilhosa Christa Ludwig e Pinkerton um jovem Plácido Domingo!)
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Para finalizar Victoria de Los Angeles. Linda musicalmente. Num raro Take de 1962 que há pouco encontrei!
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dona Benta - "relaunched"

Porque uma postagem aqui dedicada a um livro de receitas? Bem, para mim cozinhar (bem) é e sempre será uma grande Arte!

Antes do Internet entrar em nossas vidas (também na cozinha) o livro de receitas de „Dona Benta“ era, desde os anos 40, de suma importancia, quase um “manual”, para grande parte de brasileiros que moram no exterior e que de vez em quando querem cozinhar qualquer “coisinha” brasileira ou para si ou para seus convidados, o que sempre tem um “touch” exótico, de cor e de calor num dia gelado de inverno!

Eu mesmo tive uma (curta) fase na qual fiz o estilo “Casa Grande & Senzala”, de branco, servindo Bobós de Camarão, Vatapás e até (pasmem!) Acarajés em pratos, cumbucas e tigelas ou de barro ou de madeira decoradas com folhas de bananeira, doces que abusavam do direito de serem doces (que nunca fizeram muito “sucesso” aqui) como cocadas, bolos de coco e abacaxi ou doces de abóbora com coco acompanhados de cafézinhos servidos em xícaras de barro (Sempre considerei servir o açúcar numa tigela aberta de barro como uma coisa “bem” brasileira, interessante, exótica... porque não sei até hoje! Devo ter visto em algum lugar...).

Esta fase, como já mencionado acima, não durou muito. Tudo dava muito trabalho e era uma coisa meio “phoney”, meio “carnavalesca”... (Logo para mim, que cresci comendo Gulasch e Arenques!).
Além disto, com o passar dos anos fomos também nos dando conta de quão caras e “fora de contexto” eram certas receitas... bolos com 1 kg. de açúcar, 12 ou 18 ovos... E isto é fato neste livro... receitas que foram escritas em outras épocas, épocas de "vacas gordas". Hoje seriam receitas especiais para donos de fazendas, granjas e açudes... Pensen no Colesterol e Diabete causados por Dona Benta! Haja!

Nos últimos 20, 25 anos fomos porém concientizando-nos de uma forma mais leve, mais frugal de alimentarmo-nos (Mas apesar disto, sempre que vou ao Brasil, o que acontece muito raramente, adoro ir fazer uns “lanches” - nao se dizia “merendar”? - no “Cirandinha” em Copacabana para comer empadinhas de palmito e galinha, coxinhas, risólis de camarão, bolinhos, cajuzinhos e brigadeiros... Tudo “regado” com muito Guaraná! Eu sei, coisa completamente “out” no Brasil... mas quem mora fora de lá, adora! Não me convidem para comer Sushi no Brasil... ).

Bem, todos nós entendemos muito mais hoje em dia de Colesterol, Ácido Úrico, Diabete, Pressão alta, Gorduras, Açúcar, Química etc. etc. Por isto quero relatar a minha surpresa e felicidade ao encontrar numa livraria do Fashion Mall de São Conrado uma nova versão de “Dona Benta” completamente relaunched! Tenho que mencionar antes de acabar este relato que sou uma pessoa bem “low-profile”, não gosto de chamar atenção na rua ou em qualquer lugar. Isto é “herança” dos meus pais... Por isto exatamente foi ainda maior minha surpresa com o sucedido...

Abri logo o livro e comecei a ler uma receita... Sim, os tempos tinham realmente passado, uma conscientização em termos de nutrição havia já sacudido o mundo inteiro, livros como “Recipes for a small planet” já tinham sido publicados, lidos, relidos e novamente publicados, um cuidado com a alimentação tinha-se tornado uma condição Cinequanon da vida e alí, na minha frente, o “manual” finalmente atualizado! Sim! Dona Benta relaunched!

Não confiando nos meus olhos, como que para poder acreditar, pus-me a ler em voz alta para a minha prima a receita abaixo. Imaginem só, uma receita impressa no século XXI! Vide a página 223!

Cito:

O peru é o principal prato de nossos banquetes e o prato predileto do Natal na América do Norte.
Pouco antes de MATAR o peru, de-lhe, às colheradas, um bom COPO DE CANINHA e quando ele ficar bem BEBEDO, caído, MATE-O, CORTANDO-LHE o pescoço, mais ou menos no meio, SEPARANDO assim a cabeça do corpo; DEPENDURE-O pelas pernas para que o SANGUE escorra bem e comece imediatamente a DEPENÁ-LO, porque enquanto está quente será mais fácil, pois os perus devem ser depenados a seco, isto é, sem ser molhados em água fervente. Depois de depenado, CHAMUSQUE-O em fogo forte para lhe tirar as penugens e em seguida esfregue-o com fubá amarelo para que fique bem claro. Feito isto, TIRE-LHE o papo, com muito cuidado para não o furar, o que conseguirá CORTANDO o pescoço bem rente, depois de arregaçar a pele que o envolve, pois esta deve ficar do mesmo tamanho que tinha quando o peru foi morto. Cortado o pescoço, ABRA um pouco a pele pelo lado posterior e retire o papo. Abra o peru em baixo DAS PERNAS, RETIRANDO as tripas, a moela, o fígado, o coração, limpando-o muito bem; lave em seguida em água corrente tanto o papo como a parte de baixo, faça um CORTE junto da mitra, ENFIE aí as pernas do peru, DOBRE AS ASAS para trás e leve-o para um alguidar grande ou para uma bacia de cozinha... e assim continua...
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Estória da terror? Manual para Jack the ripper? Pobre peru!!!!!


Tenho que dizer que achei a situação tão absurdamente engracada que “dramatizei” um pouco a leitura da receita de perú dando certas “enfases” (em pontos óbvios). Não tinha notado que ao meu redor tinham-se juntado vários clientes da livraria que ouviam-me atentamente .Deram-me um grande aplauso e “Bravos” ao final da leitura. Que susto e surpresa!!!

Um dia deveríamos conversar mais sobre Dona Benta... sobre seu outro lado, nao sobre a inimiga dos perus! Quem ainda se lembra deste livro da minha infancia?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Happy Birthday, Donald!



Mais um importante aniversário este ano:
„Nascido“ em 9 de junho de 1934 este nosso querido pato tem nos encantado toda uma vida!
75 anos Donald, quem diria?????

A voce com seus deliciosos ataques, achaques, frescuras, crises e escandalos: UM GRANDE OBRIGADO por tanta diversao com este teu jeito simpático e, porque nao, tao "humano" de ser!!!!!!!!!!! We love you!!!!!

E como o dia dos namorados passou há pouco, aqui um pouco de Donald e sua querida Margarida, apaixonadíssimos como sempre, ao som de Frank Sinatra... “I wish I were in love again!” Que homenagem!
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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Baryshnikov & São Sebastião (e Botticelli, Perugino, Reni, Pierre et Gilles e outros...)

Encontrei esta interessante foto de Baryshnikov como São Sebastião... Como sou um grande fã de “Misha” guardei-a, pensando um dia em transformá-la numa postagem. Era, mal sabia eu, o começo de uma longa e confusa pesquisa e estória...

Realmente, uma coisa leva a outra… e por incrível que pareça (e se isto é possível !) acho que andei “tertuliando” comigo mesmo: revi o quadro de São Sebastião de Botticelli (abaixo) e dei de cara com um dos casos mais incríveis de “popularidade” que conheço!

Lembrando-me de quantas cidades no Brasil, Portugal e outros países devem seu nome a ele (Até minha cidade natal que tradicionalmente chama-se por completo São Sebastião do Rio de Janeiro assim como sua horrorosa catedral no centro da cidade!), “tropecei” em nomes divertidíssimos como São Sebastião da Amoreira (no Paraná), São Sebastião de Lagoa de Roça (na Paraíba), São Sebastião do Uatumã (no Amazonas) assim como várias outras como uma perto de Lisboa, outra em Setúbal, Loulé e até nos Açores! Ao total mais de cem só em terras de fala portuguesa! E quantas mais nos países de "Habla Española"... Além disto encontrei várias até aqui na Austria, na Alemanha, na Itália... À estas alturas parei minhas pesquisas geográficas.

Pensei no lado “padroeiro”, “protetor” mas aí descobri que São Sebastião é padroeiro dos que estão à beira da morte, dos ferreiros, dos que fazem cerâmica, dos jardineiros, dos fabricantes de escovas, dos policiais, dos soldados, dos inválidos de guerra, dos fabricantes de armas, dos que constróem túmulos, dos que carregam caixões e por aí vai a lista... além de tudo ele foi o padroeiro contra a peste (de 680) e é o protetor da polícia de Munique e de toda a polícia da Itália! Abaixo o quadro de Mantegna.

Desde a Renascença as imagens de São Sebastião levam pouquíssima roupa, tem às vezes até uma atitude lasciva, possuem um simbolismo nas flechas penetrando seu corpo e um que erótico, até de “extase” em seu rosto numa mistura de dor e prazer... Um certo “culto gay” foi inspirado a partir do século XIX pelas obras de mestres da Renascença e do Barroco como Tintoretto, Mantegna, Titian, Guido Reni, Giorgine, Botticelli. São Sebastião também aparece em trabalhos de Frank O’Hara, Marsden Hartley, F.Holland Day, Marcel Proust e até atualmente de Pierre et Gilles! Qual minha surpresa ao descobrir que muitos Gays tem uma grande afinidade com São Sebastião e que o consideram seu padroeiro!

E a transformação de sua imagem ao decorrer dos séculos: No século V ele era um guerreiro com um adaga e uma lança (pelo que me lembro à la São Jorge)!
Nos quadros germanicos e holandeses ele está, na maioria das vezes, coberto de feridas, nada como acima no quadro de Guido Reni.

Mas quem foi realmente este Santo? Aqui uma versão:
Um oficial da Guarda Pretoriana em Roma, que assumiu públicamente ser Cristão ou seja, teve seu “coming-out”. Por este motivo o Imperador Diocleciano sentenciou-o à morte por flechadas – e este é o momento que conhecemos dos quadros, das imagens, como também no quadro, abaixo, de Perugino.

Ele porém não morreu e uma viúva chamada Irene tratou-o, curando-o. Mas Sebastião voltou a Dicleciano (que insistente... ) e desta vez foi realmente morto num circo à pauladas. Jogaram seu corpo na “Cloaca Maxima” perto do Tibre mas ele foi resgatado pelos Cristãos que o enterraram nas “Catacumbas”. O resto da estória conhecemos: ele foi canonizado.

Existe também uma outra versão que conta que por causa de sua beleza Sebastião despertou o interesse do Chefe da Guarda Pretoriana (ou do Imperador) e como negou seu afeto, foi sentenciado à pena de morte (Acima o trabalho de Pierre et Gilles).

Uma foto atualíssima:
Até o ex-policial transformado em modelo, Sebastien Moura, foi fotogrado há pouco tempo como Sebastião.

Um mito que hoje em dia ainda parece ter um sabor de atualidade!

De qualquer forma; que popularidade, não? Imaginem só o fato de ter sido pintado por tantos mestres... e mencionado por tantos pensadores... e ainda por cima ser padroeiro em tantas partes do mundo e de tantos grupos de trabalho. Sebastião, para voce, realmente: Chapeau!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Bette, Julie & Oscar

Bette Davis: a “malvada” par excellence (mesmo que no filme “A malvada”/ “All about Eve” de 1950 a personagem má pertencesse à Anne Baxter). Mesmo assim Bette representou personagens bons („Apple Annie“, Charlotte em „Now Voyager/A viagem“ ) até trágicos por causa de sua extrema honestidade e honra como a « Mademoiselle » de « All this and heaven too » (« Tudo isto e o céu também, Warner 1941). Mas em „Jezebel“ (1938) ela usa e abusa do direito de ter falta de caráter…

Mas como foi o „slogan“ uma vez usado para ela?

Nobody’s as good as Bette when she’s bad!

E com todas suas ruindades e patifarias sua “Julie” em Jezebel transformou-se numa linda mulher. Sim, Bette era tão atriz que até podia passar a ilusão da beleza (física). Aqui Bette com um jovem e bonito Henry Fonda, que deu muitas dores de cabeca à ela. No seu contrato havia uma cláusula que ele deveria terminar as filmagens num certo dia para voltar à New York para o nascimento de sua filha (que por acaso transformou-se em Jane Fonda). Fato este que deixou pobre Bette, no final das filmagens, fazendo todos os seus "close-ups" de amor, durante semanas, olhando para o vazio... Fonda já estava com sua esposa em New York. Pobre Bette!

Julie foi sua “vingança” por não ter conseguido o papel de Scarlett O’Hara (no filme que só seria acabado em 1939). Ela, como uma sulista, fez sua pequena versão de “GWTW” (…E o vento levou”) e ganhou o Oscar de melhor atriz 1938.
Apesar de eu achar que sua maior vingança foi ter tirado o papel de Julie de sua arqui-inimiga Miriam Hopkins, que tinha-o interpretado na Broadway (assim como o caso de amor que teve com Anatole Litvak, o famoso diretor – e marido de Hopkins!!!!!). Outra vez falaremos mais de Bette, seus cigarros e suas arqui-inimigas: Miriam Hopkins e Joan Crawford... (muito "pano para manga", muito "abacaxi para decascar"!)

Um “porém” muito interessante: até então a estátua da academia era só chamada de “Academy Award”. Bette ao recebê-lo achou-a parecida à imagem de seu então (atlético) marido: Oscar. Fez um comentário qualquer e pronto… “pegou” e até hoje falamos de “Oscar” (que, por sinal, virou uma marca registrada).

domingo, 7 de junho de 2009

Quando "Beautiful People" eram realmente "Beautiful"

Marisa Berenson foi, é, uma linda mulher. Neta da grande "Modista" Schiaparelli (que deu muitas dores de cabeca à Coco Chanell), modelo famoso, membro fixo do jet-set desde os anos 60, atriz (Trabalhou em dois filmes famosíssimos: "Cabaret" de Bob Fosse como Natalia Landauer e "Barry Lindon" de Stanley Kubrick como Lady Lindon), mulher elegante e de bom gosto, fina, dona de si.

Aqui uma foto fenomenal que encontrei há pouco: no baile de "Proust" dos Rotschild em 1971 (sabiam que os Rotschild vem de Viena?), fotografada por ninguém menos que Cecil Beaton!!!!! (sobre quem aliás, um dia, teremos algumas postagens!)
Ah... tempos em que "Beautiful People" eram realmente bonitos, chiques, glamourosos... Um lindo exemplo, nao?

Como também esta antiga capa do Vogue com Helmut Berger, na época um jovem "Deus"...

Poderia com todo prazer mostrar aqui uma foto atual de Marisa... Linda como sempre. Mais elegante do que nunca. Mas teria que mostrar também o austríaco Helmut Berger e isto nao seria justo para Helmut que deixou-se levar pela "vida" e transformou-se numa imagem ambulante digna do "Retrato de Dorian Gray" - filme no qual, aliás, trabalhou. E este Blog nao é do tipo "antes e depois".

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Frances Farmer and God


Desde a trágica Segunda-Feira passada penso neste “Essay” escrito ainda na High-School por Frances Farmer (sim, a maravilhosa atriz que, anos depois lutou contra o sistema Hollywoodiano, perdeu e passou muitos e muitos anos num hospício, não sendo louca – mais sobre ela um outro dia).
A mensagem desta ainda adolescente não saiu-me da cabeça por todos estes dias. Tive que sentar-me e traduzí-la. Voces entenderão.

“… e ninguém nunca aproximou-se de mim e disse „Voce é uma boba. Não existe tal coisa como Deus... “. Eu não acho que ele foi assassinato. Eu acho que Deus só morreu de velhice. Quando dei-me conta que ele não mais existia, isto não me chocou. Talvez pelo motivo de nunca ter-me deixado impressionar pela religião. Eu ía à escola dominical e gostava das estórias – estórias sobre Cristo e a Estrela de Belém. Elas eram bonitas mas eu não acreditava nelas. Era tudo muito vago. Deus era algo diferente. Deus era algo real. Algo que eu podia sentir. Mas existiam só certos momentos nos quais eu podia senti-lo. Eu costumava deitar-me entre os frescos, limpos lençóis à noite, tendo esfregado meus cotovelos e unhas e dentes para entao conversar com Deus. Eu estava limpa. Nunca havia estado mais limpa. E de uma certa forma sentia Deus. Eu só não estava certa do que era. Só esta sensação de frescura, limpeza e escuro. Mas aquilo não era religião. Existia um lado muito físico nisto tudo. Depois de um certo tempo, mesmo à noite, o sentimento de sentir-me com Deus não durava mais. Eu comecei a ponderar sobre o que o Pastor dizia... que Deus ve até o menor pardal cair do ninho e que ele toma conta de todas as suas crianças. Mas se Deus era pai de todas as crianças, então aquela limpeza que eu sentia à noite não era Deus. A partir daí, quando eu ía para a cama à noite, começava a pensar que estava limpa e logo em seguida que estava com sono. Então eu adormecia. Isto não impediu-me de desfrutar menos da limpeza. Mas eu sabia que Deus não mais estava lá. Algumas vezes achei bastante prático lembrar-me dele. Principalmente quando eu perdia coisas importantes. Depois de correr desbaforida pela casa, cansada de procurar, eu conseguia parar no centro de um quarto e fechando meus olhos, dizia: “Por favor Deus, deixe-me encontrar meu chapéu azul com a fita vermelha”. E normalmente funcionava. Isto deixou-me muito satisfeita até o dia em que comecei a pensar que se Deus amava todas suas crianças igualmente, porque se preocupava com meu chápeu azul enquanto outros perdiam seus pais e mães para sempre? Eu comecei a perceber que Ele não tinha muito o que haver nem com a morte das pessoas nem com os chapéus. Estas coisas aconteciam caso ele quizesse ou não. E Ele mantinha-se no “Céu” e pretendia não notar. Eu pensei um pouco sobre o porque de Deus ser tao inútil. Parecia uma perda de tempo pensar nele. Fiquei muito orgulhosa de ter por mim mesma descoberto tudo isto, sem a ajuda de ninguém. Me intrigou porém o porque de outros não terem também descoberto. Deus tinha ido embora. Porque não conseguiam ver isto? Isto ainda me intriga”.
(Tradução livre de Ricardo Leitner 02.06.2009)